TEXTO PARA A PRÓXIMA REUNIÃO DO CÍRCULO DE LEITURA:
Kundaliní: a Alavanca Biológica
A paz e a beatitude e também o aumento da capacidade criativa sentidos por alguns dos que praticam formas saudáveis de Yôga, devem sua origem à Kundaliní. O bem-estar físico e mental, e também a cura de várias indisposições às vezes efectuada, são, com frequência, devidos ao seu trabalho regenerador. Não há esfera da actividade e do pensamento humano na qual o impacto desse aparelhamento evolucionário não seja sentido. Desde que o mecanismo seja identif**ado, não haverá estudo científico tão extenso e mais carregado de importantes consequências para a humanidade do que esse. Ele é o manancial de tudo quanto é produtivo, nobre, heróico e sublime no homem. O corpo humano, com sua formação extremamente complexa e com as suas muitas funções e processos ainda não explorados, particularmente aqueles que ocorrem no cérebro e no sistema nervoso, ainda é um enigma para a ciência. Os métodos modernos de pesquisa, mais elaborados, estão trazendo à luz novos factos, novos dados, que antes não eram sequer suspeitados. Há muitos cientistas eminentes, engajados no estudo do Yôga, que f**am surpresos, e mesmo incrédulos, diante do domínio sobre o subconsciente e sobre os ritmos metabólicos do corpo evidenciados por alguns yôgis que alcançaram o controle sobre seu sistema nervoso automático. Essa possibilidade tem sido conhecida e posta em uso há milhares de anos na Índia, mas é uma experiência surpreendente para a ciência moderna. Da mesma maneira, o mecanismo psicossomático da Kundaliní, a alavanca biológica em todas as formas de Yôga, com suas implicações e possibilidades, foi conhecido e posto em uso na Índia, constantemente, por milhares de anos, desde o tempo da civilização do vale do Indo. Essa cultura, como o demonstraram recentes investigações, teve animado intercâmbio, no comércio e na cultura, com a América da época, e foi, possivelmente, o iniciador do cultivo do algodão na costa peruana, mais de dois mil anos antes do nascimento de Cristo, séculos antes desse cultivo ser empreendido no Egipto. Mencionei isso para mostrar que as referências à Kundaliní, na escritura maia dos Zunis, chamada Popol Vuh —e onde lhe dão o nome de "Hura-Kan", ou relâmpago, deve ter, também, origem hindu. No Egipto, a pequena cobra no toucado dos faraós tinha a mesma signif**ação. Há indiscutíveis referências à Kundaliní na Bíblia. As circunstâncias relativas ao nascimento de Cristo têm alguns aspectos em comum com as que se relacionam com o nascimento de Krishna, o senhor dos yôgis, que, em sua infância, dança sobre a cabeça de uma cobra venenosa, Kali-Naga, isto é, a Serpente do Poder. Parece-me irónico que um culto tão antigo, tão amplamente difundido a ponto de se fazer global, e tão apoiado pela evidência de alguns dos mais elevados intelectos do mundo, inclusive Platão, Shankaracharya, Lao-Tsé e outros, devesse ser um livro fechado para a inteligência do nosso tempo. Tal como as demonstrações de controle do corpo, feitas pelos yogis, também foram um livro fechado para a ciência, a investigação sobre a Kundaliní tende a se fazer experiência ainda mais assombrosa para os cientistas que empreendam essa pesquisa nos excitantes dias que virão. Acaso os fenómenos físicos, exibidos sob condições de te**es por indivíduos dotados de faculdades psi, não representam um enigma inexplicável para a ciência? E os próprios cientistas não estão divididos, no caso dos fenómenos psi, e mesmo do próprio fenómeno da vida? Assim, enquanto para Jacques Monod a existência do homem é o resultado de um acidente, para Sir Alister Hardy, outro eminente biólogo, a pesquisa física sugere que uma visão dualística do homem é muitíssimo possível, e que há bastante evidência empírica para apoiar a crença numa “chama divina" que impregna o universo e é acessível à mente indagadora do homem. Apesar das realizações de médiuns físicos, como Eusápia Paladino, Daniel Douglas Home, Rudi Schneider e de outras pessoas dotadas, como Edgar Cayce, e apesar do testemunho de eruditos e cientistas eminentes, como William James, Henri Bergson, C, D. Broad, William McDougall, Sir Oliver Lodge, e mesmo Carl Jung, a atitude dos académicos em relação à mente e à consciência dos fenómenos associados à religião e ao sobrenatural ainda é, no todo, indiferente. A pesquisa que agora está sendo feita na Rússia, e sobre Uri Geller e outros na América e na Europa, bem como sobre iogues na Índia e sobre curadores psíquicos em outras partes do mundo, estes últimos usando, segundo se diz, facas comuns nas mãos nuas para grandes operações, não tende a parecer mais decisiva no estabelecer o caso, pela simples razão de que as forças misteriosas que f**am por trás desses fenómenos notáveis não estão sujeitas ao controle humano e, portanto, continuarão à espera de uma identif**ação por qualquer dos meios adoptados pela ciência. Essa atitude indiferente para com os casos de fé, por parte dos cientistas em geral, e a divisão entre as fileiras dos eruditos quanto á validade dos fenómenos psíquicos, é, porém, carregada de graves consequências para as massas, que não têm tempo nem acuidade mental para alcançar o fundo do problema, ou separar o verdadeiro do falso. A pressão irresistível do processo da evolução cria uma sede ardente de autoconhecimento, prelúdio natural para a entrada em outra dimensão de consciência. Se, buscando orientação, os que são atormentados por essa sede encontram uma lacuna quando se voltam para os eruditos, ou, no máximo, deparam com uma dose indigerível de polémica, que outra alternativa lhes resta senão a de voltar-se para aqueles que dizem ter conhecimento desse assunto sublime, sejam eles quem forem? Sua revolta deriva de terem sido frustrados em seu desejo de conhecer a signif**ação da vida. De que forma os modernos psicólogos avaliam essa revolta que ainda está ganhando impulso? Histeria, repressão, desejo de realização, impulsos inconscientes e incontroláveis, ou o quê? Em qual das suas categorias predilectas classif**am eles essa quase universal onda de desilusão quanto aos valores e ordens estabelecidos, e a tormentosa fome de uma vida mais satisfatória, espiritualmente orientada? Será, inconscientemente, a ameaça à sua sobrevivência, feita pelos arsenais nucleares do mundo, que está na base do seu inexplicável comportamento mental?
Recentemente, em Srinagar, recebi a visita de um jovem inteligente, filho único de um abastado americano, e ele me disse que preferia a vida calma de meditação e autopesquisa ao luxo e à grande riqueza. Há milhões de homens e mulheres jovens pensando dessa mesma maneira. Não se está vendo nessa rebelião o mesmo que aconteceu na Índia, há milénios, quando Buda deixou seu reino por uma floresta? O impacto crescente das forças da evolução cria uma sensitividade que se recusa a permanecer subserviente a uma forma de vida mecânica. Querem saber como os sábios da antiga Índia enfrentaram praticamente a mesma situação mental, depois de algumas centenas de anos de influente vida civilizada? Dividiram o prazo da vida humana em quatro partes, reservando as duas últimas, que se iniciavam à beira dos cinquenta anos, para a indagação do eu. Durante o terceiro período, moravam numa floresta, mesmo acompanhados de suas esposas. Mantidos por seus filhos, dispensados dos demais deveres da vida, mergulhavam na meditação e em outros exercícios espirituais.
Krishna, Gopi; O despertar da Kundaliní, Editora Pensamento-Cultrix ltda, pdf 2014
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Comentários
Qual o sentido da caminhada que conduziu o jovem Yogi do Himalaia a transformar-se num historiador de religiões?
Como se conciliam a inspiração deste e a ciência dos mitos e dos símbolos.
Um mundo fascinante emerge pouco a pouco das conversas registadas no presente volume : a infância romena e a Índia, Tagore e Brancusi, Lisboa durante a segunda Guerra Mundial, Paris em 1945, Bachelard e Jung, Chicago e a geração hippie, Alan Watts e Castañeda, a amizade de Cioran e de Ionesco, os dois outros romenos parisienses.
O que avulta em A PROVAÇÃO DO LABIRINTO é a modernidade de Mircea Eliade. A atenção que dedica ao imaginário condu-lo à descoberta daquilo . É também à evidência de que .
Conforme escreveu, na revista ESPIRIT, um crítico francês,
A PROVAÇÃO DO LABIRINTO vem facultar àqueles que já conhecem Eliade, tal como aos seus novos leitores, uma visão de conjunto sobre a sua obra. Uma biografia, uma bibliografia e um importante texto de Eliade sobre Brancusi completam este volume.
Eliade, Mircea, in A PROVAÇÃO DO LABIRINTO, diálogos com CLAUDE- HENRI ROCQUET
A visita a Setúbal foi culminar do intenso e repleto de actividades Programa Yôga em Férias. E não podia terminar de melhor forma, numa cidade que tem na sua bandeira o violeta, cor de alta vibração e consumidora de karma, que si só nos remete para a ideia de renovação. E que na sua configuração geográf**a corresponde ao vishudha chakra do nosso país. Vishudha, o chakra do verbo da criação. Posto isto, esta visita toda ela subordinada ao tema da renovação foi altamente introspectiva, passando por locais de extrema beleza e de grandes signif**ados tão relacionados com o nosso caminho no Yôga. Um local cheio de “lugares comuns” como o nosso querido Mestre João Camacho tão bem referia. Onde nos deparamos com os nossos martírios e com a questão de sermos ou não capazes de os suportar e ir mais além e superá-los. Ser mais forte, e quanto mais fortes nos tornamos maiores são os desafios.
Visitámos o Convento da Nossa Senhora da Arrábida, mais conhecido ap***s como Convento da Arrábida. Este convento, situado na parte mais elevada da Serra, foi fundado por Frei Martinho de Santa Maria, frade castelhano da ordem de São Francisco que confessara querer fazer uma vida de ermita, dedicada exclusivamente ao culto de nossa senhora e a quem lhe foram concedidos os terrenos da encosta da Serra por D. João de Lencastre e onde havia já o culto a Nossa Senhora da Arrábida. Frei Martinho deslumbrado com a beleza do local fundou ali a sua ordem. Um culto Mariano, um culto do feminino.
No convento da Arrábida a vida era de pobreza, sacrifício, martírio, contemplação e entrega, buscando sempre os limites do corpo físico desprezando-o numa busca incessante pela pureza e pela divindade. Os monges descalços e com os pés descobertos por serem escravos de Deus, com o mínimo de agasalho possível, quer de verão quer de inverno, usavam o capuz piramidal que ficou característico dos monges arrábidos. A sua alimentação era praticamente à base de fruta que ali cultivavam e que intercalavam com os 3 dias de jejum.
Neste convento destaca-se também a importância da água, sem a qual a permanência naquele local seria impossível. A água que é fonte de vida e que foi aproveitada e canalizada pelos monges daquela altura de uma forma sábia para que conseguissem ter de beber.
Aqueles monges contemplativos que caminhavam descalços como forma de penitência e automutilação, pretendendo assim com o limite físico chegar mais perto do divino. Identifico-me com eles, com o caminhar em silêncio e comigo própria, não como penitência, mas porque para mim é um prazer. No silêncio encontro-me e o que está aqui está em toda a parte, o que não está aqui não está em parte alguma. E o caminhar é tão natural. Na sequência do que temos vindo a falar ao longo do mês, sinto o apelo para caminhar na serra que é mãe, na mitologia hindu-Uma. Na forma de Senhora do Monte a Deusa manifesta-se como Parvati, que signif**a montanha ou que vive na montanha.
Segundo o nosso querido Mestre João Camacho, “para o hinduísmo, as montanhas são locais sagrados dos quais os incautos se devem aproximar temerariamente. É lá que os deuses vivem, é para lá que os sábios se retiram em busca do Eu profundo, em busca do conhecimento. Assim é também na tradição ocidental.”
Aqui tal como Parvati temos Nossa Senhora da Arrábida em honra de quem, ainda hoje se mantém a tradição do Círio marítimo, um cortejo de barcos engalanados que partem com a imagem da Nossa senhora da Arrábida e em sua honra. Celebrando assim, o que se diz ter sido a aparição da Virgem Maria na serra durante um temporal, emitindo uma luz intensa na encosta que ajudou uma tripulação desnorteada e em aflição a chegar a bom porto. Uma festa religiosa, mas com uma profunda ligação aos ciclos da natureza, pois representa, tal como o tema da nossa visita, a renovação, o verão é tempo de alegria e fartura e é nesta altura que se dá a celebração e o apelo às dádivas da mãe natureza, pois esta pode ser bela e motivo de contemplação, mas durante o inverno é também tenebrosa e traz consigo perigos terríveis, doenças, medos e escuridão e mesmo no verão, entre outras coisas, o calor pode ser abrasador e levar-nos a estados de desidratação.
A Serra da Arrábida é um local maravilhoso e de uma energia fabulosa, já para não falar da imensa vista sobre o rio Sado e sobre o mar que nos confere a ideia de imensidão e beleza do mundo e do universo, nos mostra como somos pequenos e fazemos parte de tudo.
Nesta visita a Setúbal tivemos ainda oportunidade de visitar a Igreja do Antigo Mosteiro de Jesus, uma igreja cujas paredes são testemunhas de mais de 500 anos de História de Setúbal e de Portugal. Foi aqui inclusivamente que foi ratif**ado o Tratado de Tordesilhas em 1494 pelo Rei D. João II. Um mosteiro também ele rico em simbolismo, logo na porta de entrada podemos ver o alfa e o ómega, símbolos de inicio e fim e foi de facto assim, ali foi o inicio e o fim pois infelizmente, por se encontrar em restauração, ap***s pudemos ver a fachada, por outro lado, é bom que esteja a ser restaurado, pois este foi considerado um museu de risco em 2013 pela federação pan-europeia de património cultural Europa Nostra e é um local tão bonito e de com tanta história e simbologia que merece ser preservado.
Terminámos como nosso habitual lanche convívio sempre tão aguardado e apetecível.
Muito obrigada querido Mestre João Camacho e Professora Anabela Duarte da Silva pela orientação nesta visita de estudo marcante e que com certeza irá ressoar ao longo do ano e pela organização deste grande evento que foi o Yôga em Férias.
SwáSthya!
Rita Fernandes, Instrutora Estagiária
Discípula do Mestre João Camacho
Há caminhos que são para nós... simplesmente. Que tudo nos dizem. Que nos definem e que nada precisam mostrar. Porque no que não se diz, no que não se vê, no que não se ouve... existe o mistério que ap***s alguns sentem.
Gosto sem puder gostar. Digo coisas como se me perguntassem.
Excelente texto, querida Prof.ª Anabela Duarte da Silva!
É no reflexo dos olhos que se avista o que vai dentro. E, neles brilham os ensinamentos do querido Mestre João Camacho!
Obrigada pela partilha! E, por vos continuar a ouvir.
SwáSthya!
Os exames nacionais para instrutores de SwáSthya Yôga, realizaram-se no passado sábado dia de Junho, o mais esperado e ao mesmo tempo mais temido dia do ano no curso de formação de instrutores de Yôga. Depois de um grande ano de trabalho e de estudo, foi o exame foi para todos o culminar deste ano transformador. Durante todo o ano somos postos à prova, mas o momento do exame é o momento da verdade. É um dia de grande pressão e de muitas emoções, mas como o nosso querido Mestre João Camacho nos tem vindo a dizer, só assim é possível lapidar um diamante, só com alta pressão. E é interessante esta comparação que tantas vezes o Mestre faz, referindo-se à nossa própria transformação, pois todas as ferramentas de corte usadas para lapidar o diamante tem de ser feitas dele
mesmo, de diamante. O diamante é o único capaz de cortar outro diamante.
O Mestre mostra-nos, ilumina o caminho, mas somos nós que temos de caminhar.
Devido à grande pressão por que passamos, o sabor da vitória é ainda mais sentido, a alegria, felicidade e satisfação depois do dever cumprido são enormes e a vontade de continuar neste caminho é cada vez mais firme.
No meu caso, tinha a responsabilidade acrescida de ter de fazer a prova de ásana não só por mim, mas por todos os colegas que íam a exame no mesmo dia, a nota da prova de ásana que eu conseguisse obter, seria a nota de todos. Senti-me o homem do leme em A Mensagem, de Fernando Pessoa. «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um Povo que quer o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme, E roda nas trevas do fim do mundo; Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo!».
Perante o júri, eu era mais do que eu, era todos os que se prepuseram a exame e queriam o certif**ado. E por mais medo que pudesse ter, desistir nunca foi opção. Com a coragem do leão que nos é característica, conquistámos todas aquilo que tínhamos ido buscar, cada uma de nós no seu grau evolutivo próprio, mas todas juntas.
Foi um dia cheio, que f**ará para recordar. E como prendemos com o nosso Mestre, devemos festejar as vitórias e para isso tivemos o merecido lanche, que era na verdade um verdadeiro banquete e que nos proporcionou bons momentos de convívio e alegria, felizes por estarmos juntos e pertencermos a esta egrégora forte, guerreira e vencedora. Convívio esse em que tivemos oportunidade, agora já mais
descontraídos de confraternizar com o nosso grande amigo Instrutor Leonardo Terto, representante do Espaço Cultural Ashram Pashupati no Brasil, e que passará o mês de Julho connosco aproveitando assim o fantástico programa Yôga em Férias a decorrer. A presença do Instrutor Leonardo Terto nos exames nacionais foi também marcante, pois está sempre a um oceano de distância e chegou precisamente neste dia tão importante para todos, fazendo questão de participar de
todas as aulas de exame bem como de trazer, como manda a tradição, o pújá ao Mestre de uma beleza e signif**ado tão bonito e profundo.
Mais uma vez muito obrigada querido Mestre João Camacho, pela orientação e ensinamentos, assim como agradeço à Professora Anabela Duarte da Silva, que no próprio dia em que foi júri de todos os exames para o grau de instrutores foi
também a exame, pelo o qual lhe dou também mais uma vez os parabéns, e ao Prof. Luís Lázaro pelo excelente trabalho.
Não posso deixar de agradecer também à minha querida monitora Professora Paula Trigo de Sousa, que apesar de não ter estado presente fisicamente, tem me acompanhado sempre de perto.
Rita Fernandes, Instrutora Estagiária
Discípula do Mestre João Camacho
Círculo de leitura do Ashram Pashupati. Director executivo: Mestre João Camacho
Funcionando normalmente
TEXTO PARA A REUNIÃO DE Março 2022
Repetição da cosmogonia
Portanto, preeminentemente, o Centro é o âmbito do sagrado, a zona da realidade absoluta. De modo semelhante, todos os demais símbolos da realidade absoluta (árvores da vida e imortalidade, fontes da juventude, etc.) encontram-se também situados em lugares centrais. A estrada que leva para o centro é um "caminho difícil" (duro hana), e isso pode ser verif**ado em todos os níveis da realidade: difíceis convoluções de um templo (como em Borobudur); peregrinação a lugares sagrados (Meca, Hardwar, Jerusalém); viagens cheias de perigos, realizadas por expedições heróicas, em busca do Velo de Ouro, das Maçãs Douradas, da Erva da Vida; desespero dentro de labirintos; dificuldades daquele que procura pelo caminho em direção a seu ego, ao "centro" do seu ser, e assim por diante. A estrada é árdua, repleta de perigos, porque, na verdade, representa um ritual de passagem do âmbito profano para o sagrado, do efêmero e ilusório para a realidade e a eternidade, da morte para a vida, do homem para a divindade. Chegar ao centro equivale a uma consagração, uma iniciação; a existência profana e ilusória de ontem dá lugar a uma nova, a uma vida que é real, duradoura, eficiente.
Se o acto da Criação realiza a passagem daquilo que não é manifesto para o que é manifesto, ou, falando cosmologicamente, do caos para o Cosmo; se a Criação teve lugar a partir de um centro; se, consequentemente, todas as variedades do ser, desde o inanimado até o vivente, podem alcançar a existência ap***s numa área de domínio sagrado — tudo isso ilumina de uma forma maravilhosa para nós o simbolismo das cidades sagradas (centros do mundo), as teorias geomânticas que orientam a fundação de cidades, os conceitos a justif**ar os rituais que acompanham sua construção. Nós estudamos esses rituais de construção, e as teorias que eles implicam, numa obra anterior, e a ela remetemos o leitor. Aqui pretendemos destacar ap***s duas importantes propostas:
1. Toda criação repete o ato cosmogônico pré-eminente, a criação do mundo.
2. Conseqüentemente, qualquer coisa que é fundada tem sua fundação no centro do mundo (desde que, como sabemos, a própria Criação teve lugar a partir de um centro).
Entre os muitos exemplos de que dispomos, vamos escolher ap***s um, que, por ser interessante também em outros aspectos, reaparecerá mais tarde, em nossa exposição. Na Índia, antes que uma única pedra seja colocada, "o astrólogo mostra qual é o ponto da fundação que está exatamente acima da cabeça da serpente que sustenta o mundo. O pedreiro produz uma pequena estaca de madeira, a partir de um galho da árvore Khadira, e, com o uso de um coco, crava a estaca no chão, bem nesse lugar particular, de maneira que a estaca fixe a cabeça da serpente naquele ponto, com toda a segurança... Se essa serpente algum dia sacudir a cabeça com muita violência, sacudirá todo o mundo até que ele fique em pedaços". Uma pedra fundamental é colocada em cima da estaca. Assim, a pedra angular f**a posicionada exatamente no "centro do mundo". Mas, ao mesmo tempo, o ritual de fundação repete o ato cosmogônico, porque, "prender" a cabeça da serpente, cravar uma estaca sobre ela, representa uma imitação do gesto primordial de Soma (Rg- V e da , II, 12, 1) ou de Indra, quando este "atirou a serpente em sua toca" (VI, 17, 9), quando seu raio "cortou sua cabeça" (I, 52, 10). A serpente simboliza o caos, aquilo que é disforme e não manifestado. Indra vem sobre Vrtra (IV, 19, 3) não dividido (aparvan), não despertado (abudhyam), dormindo (abudhyamanam), mergulhado no mais profundo sono (susupanam), estendido (asayanam). O lançamento do raio e a decapitação são equivalentes ao ato da Criação, com a passagem daquilo que não é manifestado para o que é manifestado, do disforme para o que foi formado. Vrtra tinha confiscado as águas e as mantinha no interior das montanhas. Isso signif**a que Vrtra era o
senhor absoluto — do mesmo modo que Tiamat ou qualquer divindade em forma de serpente — em relação a todo o caos anterior à Criação; ou que a grande serpente, mantendo as águas ap***s para si mesma, tinha deixado todo o mundo louco por causa da seca. Independente de esse confisco ter ocorrido antes do ato de Criação, ou se deve ter lugar depois da fundação do mundo, o signif**ado permanece o mesmo: Vrtra "impede" que o mundo seja criado, ou
de durar muito. Como símbolo daquilo que não é manifestado, do que é latente, ou do disforme, Vrtra representa o caos que existia antes da Criação.
Em nossos comentários sobre a lenda do Mestre Manole (cf. nota 35, acima), tentamos explicar os rituais de construção através da imitação do gesto cosmogônico. A teoria implicada nesses rituais resume-se nisto: nada pode durar se não for "animado", se não receber uma "alma", por intermédio de um sacrifício; o protótipo do ritual de construção é o sacrifício que teve lugar no momento de fundação do mundo. Na verdade, em certas cosmogonias arcaicas, o mundo recebeu existência por meio do sacrifício de um monstro primordial, simbolizando o caos (Tiamat), ou através do sacrifício de um gigante cósmico (Ymir, Pan-Ku, Purusa). Para garantir a realidade e a durabilidade de uma construção, existe uma repetição do ato divino da construção perfeita: a Criação dos mundos e do homem. Como primeiro passo, a "realidade" do lugar é garantida por intermédio da consagração do terreno, isto é, por sua transformação em um Centro; então, a validade do ato de construção é confirmada pela repetição do sacrifício divino.
Naturalmente, a consagração do Centro ocorre num espaço de qualidade diferente do espaço profano. Por meio do paradoxo do ritual, cada espaço consagrado coincide com o centro do mundo, da mesma forma que a hora de qualquer ritual coincide com o momento mítico do "princípio". Através da repetição do ato cosmogônico, o momento concreto, no qual a construção tem lugar, é projetado para o tempo mítico, in illo tempore, quando ocorreu a
fundação do mundo. Assim, a realidade e a durabilidade de uma construção f**am garantidas, não ap***s pela transformação do espaço profano em espaço transcendental (o Centro), mas também pela transformação do tempo concreto em tempo mítico. Seja qual for o tipo de ritual, como vamos ver adiante, ele se desenvolve não só num espaço consagrado (isto é, num lugar diferente, em essência, do espaço profano), mas também num "tempo sagrado", "era uma vez" (in illo tempore, ab origine), ou seja, quando o ritual foi celebrado pela primeira vez por um deus, um ancestral, ou um herói.
Eliade, Mircea; O Mito do eterno retorno, Ed. Mercuryo 1991, pg. 23-26
TEXTO PARA CÍRCULO DE LEITURA DE NOVEMBRO 2021
Boas tardes,
Sensei Patrão, meu amigo e, neste momento, Tokugawa, solicitou-me que vos fizesse uma apresentação das artes marciais indianas, nestas 24 horas de Kumite. Onde se procurem as raízes longínquas das artes marciais. E assim o farei. Porém, nada poderei acrescentar ao que já sabeis. Pois as praticais.
O Todê, a mão chinesa, ou o Tê, a mão, ou o Okinawa Tê, a mão de Okinawa. Ou até Karate, a mão vazia, nada mais são do que desenvolvimentos das artes que me pediram para apresentar.
As artes da espada? Bom, os samurais, até ao sec. XII usavam uma espada direita, com duas lâminas. Como algumas espadas chinesas. E passaram a usá-la curva, após a invasão, ou a tentativa falhada de invasão do Japão pelos Mongóis. Estes usavam uma túnica de seda por baixo da roupa ou da armadura. E as setas saiam com facilidade em vez de rasgarem ainda mais os tecidos ao serem retiradas. E as lâminas da espada não cortavam os tecidos porque não conseguiam cortar as fibras da seda. Por isso criaram uma lâmina curta e afiada que permitia cortar as fibras da seda e os tecidos humanos que estavam por detrás delas. Mas, também nas artes marciais indianas se usaram estes dois tipos de lâmina e outros. Também por experiências similares.
Os portugueses chegaram à Índia a usarem duas espadas, como Myamoto Musashi. E antes de terem chegado ao Japão. Não usavam escudo, mas duas espadas. Uma mais longa e outra mais curta. E desenvolveram uma técnica que permitia usar a espada de modo diferente. Passando o dedo indicador para a frente da guarda. Mais tarde as espadas passaram a ter umas partes metálicas que permitiam proteger esse dedo. Este desenvolvimento permitia uma estocada na horizontal, com precisão e força suficiente para perfurar. E a posição do dedo permitia-lhes, em seguida puxar a espada com facilidade. Mas não tinham os indianos uma espada que se agarrava com o punho fechado e que se brandia totalmente na horizontal na estocada?
Também as artes da flexibilidade, como o Jujutsu, ou Judô lá as vamos encontrar. Temos aí técnicas de controlo, de chaves às articulações, estrangulamentos, assim como técnicas de projecção.
As artes do tiro com arco? Bom, conto-vos uma história de Arjuna, o maior guerreiro de sempre, na mitologia indiana. E praticante de Yôga. Ficou para a história como um extraordinário guerreiro, virtualmente invencível, fosse em combate individual com as mãos nuas ou com armas e armadura. Ou fosse em campo de batalha integrado num exército. Como Mestre de Yôga, deve ter-se presente o Bhagavad Gítá. Esta escritura que é considerada quase uma bíblia pelo povo hindu e escrita por volta de 400 a. C. é uma conversa entre Krishna, a divindade solar, o deus-menino, e Arjuna. Horas antes do início de uma gigantesca batalha onde morreram centenas de milhares de soldados. Batalha integrada numa guerra que envolveu muitos povos da zona central da Ásia, sobretudo a Índia e a China. Zimmer, um reputado Orientalista diz que as dimensões desta guerra, para a época, uma espécie de guerra mundial. Mas esta conversa, do Bhagavad Gítá, inicia-se com Arjuna a afirmar que teme combater pois reconhece do outro lado gurus, mestres, de grande valor. E como poderia ele, em consciência, matar tais sábios? E no decurso da conversa, Krishna transmite-lhe o ensinamento do Yôga.
Mas queria referir-vos o arco. Conta o Mahá Bhárata que num treino em que Arjuna e os seus irmãos treinavam as artes da guerra sob a orientação de seu Mestre, Drona, este pediu aos restantes discípulos e príncipes que apontassem a flecha, com o arco, para um pássaro que estava no cimo de uma torre o castelo. E foi-lhes perguntando, um a um, o que viam. Reponderam-lhe que viam a torre, as pedras, a argamassa entre elas, as ervas que cresciam nas fendas, o pássaro, as p***s do pássaro, as asas, a cauda, as unhas, o mastro onde o pássaro estava poisado, etc... Drona, zangado, a todos foi dando umas pauladas com o bastão que tinha nas mãos. Quando perguntou a Arjuna, a resposta que recebeu foi: "Vejo o olho do pássaro!". Ou seja, via ap***s o local par aonde ia disparar. Via ap***s um ponto – o olho do pássaro. E a mente concentrada num só ponto – êkágratá – é o mais elevado nível de concentração.
O que poderei dizer-vos mais? Olharemos para a arte marcial, dita do amor, o Aikido? A ideia de centro (madhyama), é patente na tradição das artes marciais indianas. A ideia de estar em comunhão com o Universo? Também. Tomar consciência do macro e do microcosmos é uma constante do Yôga e das raízes das artes marciais indianas.
Poderei falar-vos de mokuso, ou de zen? Terão certamente noção de que as técnicas de meditação têm no Yôga o nome, sânscrito, de dhyána. O sânscrito é uma língua muito gutural. Mais gutural do que o alemão ou o inglês. Ora, Bôddhidharma, ou Daruma, ou Bôddhisatwa, ou Damô, alguns dos vários nomes com que é conhecido, patriarca do budismo, decidiu ir pregar o budismo para a China, por volta do sec. V da era Cristã. E foi avisado várias vezes que a viagem era longa e perigosa, encontraria desertos e florestas, vales e montanhas, salteadores e animais selvagens. Como vós, nestas 24 horas de Kumite. E aconselharam-no a levar consigo uma escolta armada. E Daruma reflectiu sobre isso. E ponderou que não podia desistir da viagem por medo de ser morto. Que espécie de alto sacerdote ele seria se se revelasse tão apegado à vida e com tanto medo da morte!? Também não poderia ir com uma escolta militar armada até aos dentes que lhe garantisse segurança pois como teria, depois, moral para falar de ahimsa, a não-violência, se se fizesse acompanhar de uma escolta?! Acresce que, dizem as escrituras, na presença de um mestre que esteja em ahimsa a violência cessa. E sentou-se em estado meditativo e surgiu-lhe à mente, através dos canais intuicionais, Shiva, o criador do Yôga, a dançar uma das suas danças, o Tándava. E esta dança é uma antiga arte marcial, gupta vídya, ou seja de conhecimento reservado, contida no Yôga Antigo. E Daruma marchou rumo à China. Quando chegou à corte do Imperador, perguntaram-lhe como teria conseguido fazer tal viagem, sozinho, sem escolta e sobrevivido? E Daruma, respondeu – de mãos vazias. Dir-me-ão alguns de vós – Karate. Mas queria referir-vos as artes da meditação. E começo por este aspecto – mãos vazias. Vazias as mãos, como a mente – paragem das ondas mentais, como o ensina Pátañjali. Daruma foi expulso da corte. E foi radicar-se num mosteiro que veio a f**ar célebre – Shaolin. E aí ensinou aos monges desse mosteiro, fracos, doentes e frequentemente agredidos, ensinou-lhes as técnicas de pránáyáma (expansão da bio-energia através de exercícios respiratórios), as de kriyá (técnicas de purif**ação), ásana (procedimentos orgânicos) , as de combate (Shiva Natarája nyása)e também as de meditação. Ensinou-lhes dhyána. Esta palavra sofreu uma corruptela, pois a língua chinesa é muito mais doce. E passou de dhyána, a dhyán e a ch'an. E foi como ch'an que os monges chineses levaram o budismo e as técnicas de meditação para o Japão a partir do sec. VI. Também aqui, o termo veio a sofrer uma alteração. Para a língua japonesa, ch'an, não soava bem. Então passou a zen.
Ora praticais toda a sorte de artes marciais indianas. O que posso dizer-vos mais?
Ah os nomes.
Como já vos disse, o Yôga é a mais antiga escola filosóf**a que existe na Índia. Em paralelo com o Sámkhya e com o Ta**ra. E a arte marcial contida no Yôga tem o nome de Tándava, ou de Samhara-Tándava. Devo dizer-vos que Hara é outro dos nomes de Shiva, o auspicioso, e que o fonema sam, signif**a "com", "integrado". Tándava é a dança da dissolução cósmica. No Yôga Antigo chamamos-lhe Shiva Natarája nyása – identif**ação com Shiva na sua forma de bailarino real.
João Camacho, O Sono de Ganêsha
Texto para a reunião do Círculo de Leitura de 22 de Outubro de 2021.
Hoje abordarei a não democraticidade da iniciação e do caminho iniciático e da relação Mestre/Discípulo.
Julius Evola, no seu livro Le Yôga Tantrique, refere que a ciência, a técnica, são democráticas. Têm uma estrutura, intrínseca, de organização e de transmissão do conhecimento democrática. Qualquer um, medianamente inteligente, consegue ir à Universidade e fazer seus os conhecimentos actuais. Uma pi***la produz o mesmo efeito nas mãos de um id**ta, de um soldado, de um polícia ou de um chefe de estado. E a qualquer um deles é possível transportá-los de avião, de um lado para o outro, no mesmo número de horas. Mas assim já não é com o conhecimento iniciático. No âmbito da ciência estamos no plano ontológico do ser humano. E aí, os princípios são os da igual dignidade. Porém o homem é qualquer coisa que pode ser ultrapassada, como ensinou Nietzche. A transcendência da condição humana, objectivo das disciplinas da auto-superação, como a nossa revolução cultural, conduz o sádhaka a um estado existencial e ontológico (ontos – ser, logos – fogo; ciência; estudo). Ou seja, a um estado de ser superior ao do ser humano comum, consequência da superioridade de uma evolução que leva a que o yôgin seja um mutante, por comparação com o resto da humanidade. Ora, o calor, o despertamento da kundaliní, os siddhis que com isso se manifestam, são pessoais, intransmissíveis e não democratizáveis. E isto, esta profunda diferença, é a divisão fundamental entre a tradição e a modernidade. Pois a diferença real entre os seres é a base de um conhecimento e dum poder inalienáveis, não comunicáveis, logo, exclusivos e esotéricos pela sua própria natureza e não por artifício, pois trata-se de um culminar de um desenvolvimento excepcional, que não se pode partilhar com toda a sociedade.
Nesta sequência, René Guenón, o grande orientalista francês da primeira metade do séc. XX, estabeleceu, para classif**ar uma fraternidade, um círculo interno, como detentora de autênticos processos iniciáticos, três características que se devem observar:
1- Necessidade de uma genuína qualif**ação interna dos seus membros
2- Necessidade de uma transmissão do saber esotérico e de auto-aperfeiçoamento interior de cada um dos membros
3- Necessidade de actualização activa subsequente, pelo esforço individual
Tais exigências devem-se ao facto de a iniciação não ser um mero ritual de passagem que celebra a aceitação numa fraternidade. Deve haver uma genuína qualif**ação interna dos seus membros e depois com a individual “actualização activa subsequente”. A iniciação é muito mais do que ser aceite num grupo. É, e pretende ser, um processo transformativo, de mutação, de auto-superação, que começa com um influxo energético, polarizado, pelo Mestre, proveniente dos domínios transcendentes e exercendo os seus efeitos ao nível dos corpos subtis. Porém, o que se envolve no processo iniciatório, deve ultrapassar-se também em provas físicas (veem aqui outra razão para a coreografia?) e ser corajoso. (...) O iniciado para vencer as provações e receber o conhecimento do Mestre, deve desenvolver, entre outras, as seguintes qualidades: saber, querer, ousar e calar.
A iniciação foi sempre reservada a alguns e nunca aberta a toda a gente. O impulso iniciatório transmuta o seu humano, se este não o detiver. Uma tradição iniciática usa tudo o que não é racional como elemento de transformação: o corpo; os desejos; as pulsões; a imaginação; a clarividência; a emoção; a intuição. Pois o processo só pode iniciar-se e ter continuidade de fora para dentro, do Mestre para o discípulo.
Texto para a reunião do círculo de leitura de 24 de Setembro de 2021:
OS VERBOS DAS RAÍZES
Os verbos que melhor explicam estas filosofias, são:
Yôga – poder
Sámkhya – saber
Vêdánta – crer
Ta**ra – sentir
Brahmacharya – dominar
(35 Dominar, controlar, não constituem proposta do Yôga e sim do Brahmacharya. Portanto, não faz o menor sentido aquele estribilho escutado a torto e a direito pelos praticantes de Yôga:
“Você não pratica Yôga? Deveria se controlar melhor.” Na verdade, essa frase é uma declaração de ignorância a respeito da verdadeira natureza do Yôga e costuma ser aplicada pelos mais íntimos para manipular o yôgin, a fim de que ele se submeta às conveniências dos outros. O leigo acha que o Yôga tem essa proposta de dominar-se, controlar-se, pois o único Yôga que conhece é o Medieval, da vertente brahmacharya, a qual é repressora. O Yôga não é repressor. Nem poderia, uma vez que ensina ap***s técnicas.)
Colocando lado a lado os verbos acima, poderemos ter uma ideia mais precisa dos resultados das receitas assim obtidas.
1. Pré-Clássico: casando o Yôga com o Sámkhya e o Ta**ra obtemos poder, saber e sentir, uma proposta sábia e sensível da administraçãodo poder. Essa estrutura é a das antigas civilizações não-guerreiras, a mesma do Yôga Pré-Clássico. Parece ser a melhor de todas as combinações, a mais humana, a mais racional e a mais equilibrada. É relacionada com a sapiência (Sámkhya) e com a arte (Ta**ra).
2. Clássico: associando o Yôga com o Sámkhya e o Brahmacharya, poder, saber e domínio, poderemos obter algo em que o poder f**a mais forte com o conhecimento para conseguir o domínio. Em mãos inescrupulosas, isso pode ser um perigo.
3. Medieval: amalgamando o Yôga com o Vêdánta e o Brahmacharya, poder, crença e domínio, chegaremos a um resultado em que o poder, respaldado pela fé, torna-se irracional no desempenho da dominação. Essa foi a estrutura da Santa Inquisição e é praticada atualmente por muitas seitas e alguns grupos espiritualistas36. Aliás, a própria ciência, que se diz racional, está contaminada por essa praga. Quem sair dos paradigmas, será execrado.
4. Contemporâneo: juntando o Yôga com o Vêdánta e o Ta**ra, poder, crença e sensibilidade, obteremos uma administração sensível do poder, porém conduzido pela devoção, resultando em atitudes emocionais, nem sempre racionais. Produz muitos sonhos, devaneios e idealismo, porém, sem ter os pés no chão. Essa estrutura foi proposta pela filosofia hippie e é professada pelos seus herdeiros atuais, os alternativos. Têm boas intenções, contudo, é mais frequente que seus projetos terminem em fracasso do que cheguem a bom termo. Pode conduzir à auto-enganação, sugestibilidade e hipnose.
Pelas comparações acima, compreendemos que o Yôga mais antigo, Pré-Clássico, pré-vêdico, pré-ariano, proto-histórico seja considerado, por nós, a melhor proposta. No entanto, não interprete o leitor que, com esta reflexão, estejamos criticando outras correntes. Todas são dignas de respeito e consideração. É uma questão de livre escolha.
(36 Não confunda espiritualista com espírita. São conceitos distintos. “Espirita e o que tem por fundamento o conjunto de leis e principios revelados pelos espiritos superiores nao encarnados”. Por definição o espírita é também espiritualista, porém, alguns espiritualistas não-espíritas discordam. É Kardec quem afirma: “Todo espirita e necessariamente espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espiritas.” Este autor não é espiritualista nem espírita, mas não tem nada contra essas duas correntes. [As presentes definições só servem para alguns países. Noutros, utiliza-se nomenclatura diferente.])
Texto para o Círculo de Leitura de 23 de Julho 2021
VII.I- ENSINAR COREOGRAFIA POR UM MESTRE
Desde logo, devo corrigir a premissa apontada pela epígrafe deste subcapítulo. Não digo bem, pois o conhecimento não se ensina. Transmite-se.
Como se processa a relação Mestre/Discípulo no que respeita à aprendizagem da coreografia de ásana?
Ensinar a arte da coreografia está mais no domínio do mental e do emocional do que do corpo.
O Mestre, em muitas artes orientais, como o Yôga, é alguém que ensina através da acção. Por sua vez os discípulos e praticantes que o rodeiam não são observadores passivos, mas sim executantes que participam, que interagem. O Mestre estabelece com estes intervenientes uma relação de guia/parceiro na qual o seu corpo é um mediador em posição de privilégio. Pois o mestre comunica e ensina também através do corpo. É uma experiência de grande entrega e delicada no modo como se desenvolve.
Van Lysebeth que se debruça, nos seus escritos, sobre o corpo do Mestre no ensino do ásana, refere que o corpo do Mestre é muitas vezes um modelo imposto na forma de execução do ásana. Que melhor é o Mestre sugerir, fazer propostas de movimento e deixar o praticante desenvolvê-las no seu corpo. Esta forma é um meio de afastar uma reprodução mimética e mecânica do movimento, permitindo ao Mestre orientar a pesquisa no sentido da verdadeira criação e da tomada de consciência do corpo através do movimento. Pois, na verdade não se trata de executar um movimento ou uma posição que outros tentem imitar ou mimetizar. O Mestre não quer que se identifiquem com ele, nem que sejam o seu espelho. É necessário que o discípulo encontre a sua própria identidade através da descoberta de si mesmo, embora através da proposta do Mestre. Proposta que provém do próprio corpo do Mestre. Sem que a imponha.
Um verdadeiro Mestre não se exibe. Pois, em verdade, não é o Mestre que caminha para os outros, são os outros que vêm a si. Os praticantes “lêem” o Mestre e bebem no seu corpo a proposta de movimento. Por sua vez, o Mestre fala em particular a cada um dos que o rodeiam, mesmo quando fala a todos ao mesmo tempo. A proposta de movimento do Mestre é ampla, pois desenvolve-se num espaço (akasha [1]) quase ilimitado de vazio (shúnya [2]).
O executante perfeccionista, que esteja preso à técnica, tende, muitas vezes, a deter-se no perfeccionismo e no tecnicismo, querendo o mais, querendo e necessitando de mostrar a maestria corporal. O Mestre insiste no menos. O corpo do Mestre procede e propõe por omissão. Está ali no seu enunciado. O corpo do Mestre está marcado pela idade, pelos anos de estudo, pelas práticas a que foi submetido, pelas escolas seguidas, pelas experiências passadas. Mas que já são, tão só, vestígios, que emergem, por vezes, vindos não se sabe de onde, aqui e ali, nesta e naquela proposta de coreografia, de movimento, de execução de ásana. Vestígios que não se impõem ao Mestre, nem aos que o seguem. São ap***s uma memória de experiência passada resultante. Nestes vestígios, tudo o que é superficial perdeu-se, na omissão resultante da evidência do que é profundo. Por isso o Mestre aprende a cada instante: o ensinar ensina-o.
Um Mestre que o seja nunca se sente repleto, nunca está saciado com a acumulação de saber. Trilha, uma e outra vez, o caminho da transmutação. Permanece no caminho da intuição, no sentido do conhecimento claro, imediato. Tantas vezes, só a posteriori sabe racionalizar o que ensinou. No momento, vai direito ao objectivo, sabendo que aquele é o caminho.
Um Mestre também sabe que aquilo que ensina é menos importante do que aqueles a quem ensina. Por isso há ambiguidade no contacto. O corpo dirige-se ao outro. Há proximidade, há contacto. Essa proximidade, esse contacto, cria intimidade que importa, a cada momento, avaliar, medir, ajustar, explorar. De modo sábio. O tocar existe. E este é subtil. Umas vezes afaga, outras corrige. Mas não é nem adulador, nem reprovador. Corrige. Toca a pele. Há quem diga que a pele é o que de mais profundo o ser humano possui. Certo é que, muitas das vezes, um grande Mestre quando pousa a mão nalguém, não é ap***s o corpo que toca, mas sim a própria alma do discípulo. O tocar, proveniente das mãos do demiurgo, guia e orienta. Rilke, o grande poeta alemão, dizia, em certa ocasião, numa carta a Rodin, que junto de um Mestre procuramos as “mãos que fazem a grandiosidade.” Mãos que pelo seu caminho e pelo seu percurso são grandiosas e fazem a grandiosidade dos outros. Tais mãos quando tocam na pele do discípulo, que é aquele que procura a via, quer trilhar o caminho, fazem-no para lhe dar uma direcção, para lhe indicar o lado certo. Como se fosse uma pressão imperativa, resultante da certeza que só pode ter quem indica o caminho já percorrido. E este caminho é o da descoberta do ser, é o da grandiosidade ligada à experiência, da dignidade do reencontro consigo mesmo. Essa é a finalidade das mãos do Mestre.
O Mestre não é um treinador. O seu método é o do tacto, do contacto, da escuta, da atenção aos discípulos. Seguindo a vibração do corpo. Sugere mais do que impõe. Propõe corpo a corpo, sem complacência, rigoroso, mas doce. Há que desenvolver uma relação de respeito e de confiança. E o Mestre continua no campo da intuição. Procurando, através desta, prever, prevenir, às vezes adivinhar, mesmo que o discípulo não entenda a razão de ser aquele caminho e não outro. E nisto, as mãos do mestre e através destas, o corpo do Mestre, também participam, como corpo de atenção, corpo de presença, corpo de travessia.
No movimento que o Mestre sugere a este ou aquele discípulo, no caminho que faz este ou aquele discípulo trilhar, procura revelar-lhe tanto o exterior perceptível aos sentidos e à consciência racional, assim como o interior que se revela à intuição, que se descobre no amor do coração. Amor que o discípulo, quando o é, desenvolve pelo Mestre. O caminho proposto pelo Mestre, revela, tantas vezes, o uno no que é múltiplo.
Em suma o Mestre é um aprendiz-sábio, que procura ser menos, para conseguir ser mais. Arquitecta a sugestão de movimento, a procura de harmonia, no vazio. Como se vibrasse o tempo, como se vibrasse o espaço. Como se fosse demiurgo. A sua mensagem é, tantas vezes, de enigma. O Mestre é o guia que indica o caminho, mas é também o caminho, é aquele que o trilha, é aquele que está no fim. E dessa maneira deixa de ser o aprendiz-sábio, para ser ap***s o principiante dos principiantes. Dessa maneira está o tempo todo com o discípulo, na travessia a que este se vai sujeitando.
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