09/03/2019
🚨 Paciente 28 anos masculino, vem transferido de outra unidade com diagnóstico de pneumonia, primeiro atendimento e iniciado tratamento hoje.
SINAIS: PA: 135x73mmHg,. FC: 125bpm, FR: 26irpm, Sat: 89% com MNR 15l, Glicemia: 115mg/dL Tax.: 36.8C
Paciente se apresenta bem cansado, sonolento e pouco colaborativo com história clínica e exame físico. A família está a caminho para dar maiores informações.
Exames:
HB 11.7 HT 38% VCM 94% HCM 28 Plaquetas: 232.000
GB: 9500 Bastoes: 0 Linfocitos: 2185 Linfocitos atípicos: 0
Ureia: 110 Creat 1.7 Amilase 42 TGO 105 TGP 43 FAL 330 BD 2.0 BI 1.5 CPK 3000 Na 135 K 3.0 Mg 2.0
🐀 Por que nesse caso pensamos em Leptospirose?
- Hoje essa seria a nossa principal hipótese diagnóstica considerando um surto recente de casos de leptospirose na região de abrangência do nosso hospital.
Muitas vezes recebemos pacientes em condições muito graves com poucos detalhes da história clínica, o que nos obriga a cobrir um leque grande de diagnóstico diferenciais no tratamento inicial. Aos poucos depois, vamos investigando, colhendo e recolhendo dados, pedindo exames e encaixando o quebra-cabeça.
A leptospirose é uma zoonose endêmica no Brasil, que ocorre o ano inteiro e aumenta sua incidência em período de chuvas, podendo haver surtos isolados.
A maioria dos casos se parece com um quadro febril viral que se resolve em uma semana (fase precoce), mas 15% dos casos pode evoluir para fase tardia com potencial de gravidade. Nos quadros de leptospirose grave a mortalidade varia de 10 a 50% (quando associado com hemorragia alveolar).
Portanto esse sempre deve ser um diagnóstico diferencial em pacientes com doenças agudas graves que envolvem e/ou icterícia e/ou hemorragia pulmonar ou consolidação difusa.
DICA 1: A icterícia é um marco da leptospirose porém formas graves, principalmente com envolvimento renal e pulmonar, podem NÃO apresentar icterícia. Logo ausência de icterícia não descarta leptospirose.
A síndrome de Weil é caracterizada por leptospirose com:
- icterícia
- insuficiência renal
- hemorragias, principalmente pulmonar
Sempre associado a maior mortalidade.
DICA 2: Procurar por sufusão conjutival caracterizado por hiperemia e edema da conjuntiva ao longo das fissuras palpebrais é muito característico de leptospirose e está presente em 30% dos casos.
O comprometimento pulmonar da leptospirose apresenta-se com tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica e, ocasionalmente, dor torácica e cianose. Podendo evoluir para síndrome da hemorragia alveolar aguda ou síndrome da angustia respiratória aguda (mesmo não apresentando hemorragia) ou está ser exteriorizada já tardiamente.
DICA 3: deve manter uma suspeição para a forma pulmonar grave da leptospirose em pacientes que apresentem febre e sinais de insuficiência respiratória, independentemente da presença de hemoptise.
A leptospirose causa uma forma peculiar de insuficiência renal aguda, caracterizada geralmente por ser não oligúrica e hipocalêmica devido à inibição de reabsorção de sódio nos túbulos renais proximais, aumento no aporte distal de sódio e consequente perda de potássio.
DICA 4: IRA com hipocalêmia deve acender um alerta.
Outras manifestações frequentes na forma grave da leptospirose são: miocardite, acom- panhada ou não de choque e arritmias agravadas por distúrbios eletrolíticos; pancreatite; anemia e distúrbios neurológicos como confusão, delírio, alucinações e sinais de irritação meníngea. A leptospirose é causa relativamente frequente de meningite asséptica. Com menor frequência ocorrem: encefalite, paralisias focais, espasticidade, nistagmo, convul- sões, distúrbios visuais de origem central, neurite periférica, paralisia de nervos cranianos, radiculite, síndrome de Guillain-Barré e mielite.
DIAGNÓTICOS DIFERENCIAIS
a) Fase precoce: dengue, influenza (síndrome gripal), malária, riquetsioses, doença de Chagas aguda, entre outras.
b) Fase tardia: hepatites virais agudas, dengue hemorrágico, hantavirose, febre ama- rela, malária grave, febre tifoide, endocardite, riquetsioses, doença de Chagas aguda, pneumonias, pielonefrite aguda, apendicite aguda, sepse, meningites, colangite, colecistite aguda, coledocolitíase, esteatose aguda da gravidez, síndrome hepatorrenal, síndrome hemolítico-urêmica, outras vasculites incluindo lúpus eritematoso sistêmico, entre outras.
TRATAMENTO
Na suspeita de leptospirose é mandatório o inicio do antibiótico, considerando que sua maior eficácia é na fase inicial da doença, mas deve ser iniciado a qualquer momento da suspeita.
É importante solicitar os te**es diagnósticos, geralmente disponíveis ELISA-IgM e MAT.
Notificar o caso para a Vigilancia Epidemiologia afim de incitar investigação e bloqueio quando indicado.
- ATB: - Penicilina G Cristalina: 1.5 milhões UI, IV, de 6/6 horas; ou
- Ampicilina : 1 g, IV, 6/6h; ou
- Ceftriaxona: 1 a 2 g, IV, 24/24h ou Cefotaxima: 1 g, IV, 6/6h. Alternativa: Azitromicina 500 mg, IV, 24/24h
Referências:
- Leptospirosis in Humans David A. Haake and Paul N. Levett
- Leptospirose diagnostico e manejo clínico, ministério da saúde, 2014